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5 entrevistas não dá publicação, não, irmão!

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    Equipe Fácil Metodologia
  • 18 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

É claro que já te falaram que é muito mais difícil publicar pesquisas qualitativas do que quantitativas. E, eu trago verdades: é mesmo muito mais difícil.





E, sabe porque? (Desculpa, mas verdade dói) – porque boa parte da pesquisa qualitativa que fazemos é ruim! Sem rigor (transparência e triangulação), sem saturação teórica e sem nenhum planejamento.


Costumo dizer, que é muito fácil rejeitar um artigo que usa metodologia qualitativa, mesmo sem lê-lo na integra, baseado apenas no comprometimento metodológico dos resultados da pesquisa.


Vamos aos fatos: Joaozinho (famoso estudante) está lá, fazendo um artigo, faz o cronograma reverso e percebe que não vai dar conta de cumprir com o prazo para seu estudo. O que ele faz? Liga para tia dele, que trabalha num escritório contábil (ela conhece muitas empresas e empresários) e pergunta se ela pode ajudar a fazer contatos para ele conseguir “umas 4-5”empresas para aplicar umas “perguntas” sobre o processo de Inovação.


A tia diz que pode ajudar e imediatamente liga para uns clientes mais próximos e que lhe devem uns “favorzinhos”. Em menos de meia hora, Joaozinho volta para a zona de conforto – ele já tem os 5 casos! A tia mesmo marcou as entrevistas. Em uma semana Joaozinho finaliza as entrevistas, e em menos de 20 dias paper submetido! Uhuuulll! Viva Joaozinho!


Mas que barbaridade!!! (como boa gaúcha, me permito dizer isso) – isso aqui é muita falta de ética Joaozinho!


Queria endereçar uns questionamentos para você:


a) Por que as empresas escolhidas, devem ser estudadas para poder responder ao problema de pesquisa?


b) Quais os critérios que você usou para escolher os casos, Joaozinho?


c) Entao para entender sobre o processo de inovação em uma empresa, basta falar com “uma”pessoa ? Qualquer pessoa?


d) Joaozinho, você transcreveu todas as entrevistas? Poderia me mandar os áudios e as transcrições? (Ihhhh..Joazinho pegou só umas falas direto do áudio mesmo, ele não tava com muito tempo).


e) Joaozinho, se você tem 5 entrevistados, porque usa as falas apenas de um deles?


f) Joaozinho, então você usou técnicas de observação... Que bacana! Usou por que? Observou o que? Onde os resultados da observação foram descritos?


g) Joaozinho, tem o codebook? (Ahhhhhh...o que é isso???? – Joaozinho pira! O avaliador também!)


h) Joaozinho, o processo de inovação é complexo e precisa que você faça triangulação, tanto nos níveis dos entrevistados, quanto a partir da utilização de documentos ou outros dados secundários.


i) Joaozinho, que dados você usou para triangular (confirmar) os achados das entrevistas?


j) Joaozinho, faz sentido dizer que 30% das empresas entrevistadas tem departamento de P&D?


k) Joaozinho, então você quer contribuir com a ciência, quer ajudar a entender como o mundo funciona, quer dar um resultado racional, certo e provável, sistematizado e verificável sobre o processo de inovação usando suas 5 entrevistas, baseadas em 5 empresas que a sua tia indicou?


l) Então Joaozinho, quer que o mundo adote seus resultados como generalizáveis e capazes de mudar a forma como as empresas gerenciam o processo de inovação a partir destas escolhas?

Então, Joaozinho, deixa eu te contar umas coisas:

Coisa 1: É difícil publicar pesquisa qualitativa, sem rigor!

Coisa 2: É difícil publicar pesquisa qualitativa, sem transparência!

Coisa 3: É difícil publicar pesquisa qualitativa quando você quantifica respostas!

Coisa 4: É difícil publicar pesquisa qualitativa sem saturação teórica.

Coisa 5: Joaozinho, 5 entrevistas não dão publicação, não, irmão!

Não seja o Joaozinho!


Autora: Kadígia Faccin

 
 
 

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Email: facilmetodologia@gmail.com

Facilitadoras: Dra Kadigia Faccin, Luiza Fróes, Dra Bibiana Volkmer Martins

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